Bestiário: O andarilho do pântano

Inyë tyë-suilantëa, meldir! Eu os saúdo, amigos! Hoje irei contar uma história passada de geração por geração em minha linhagem. Um conto de horror e tristeza, de solidão e desespero. Hoje falarei sobre aquele que nós elfos chamamos de Firen Gwann, conhecido entre os Povos Livres como o “Andarilho do Pântano”.

muitas gerações atrás, antes dos humanos forjarem suas primeiras armas, havia, na região que eles conhecem hoje como Charco Verde, uma grande floresta pantanosa, aonde até mesmo os mais bem treinados batedores poderiam se perder. Não havia humanos como os de hoje naqueles tempos. As raças subterrâneas ainda eram covardes demais para subir à superfície e os anões cuidavam de suas próprias vidas nas montanhas do Norte. Os elfos povoavam as florestas e ainda não havia sinais da Era do Caos se aproximando.

O meu povo celebrava e cantava à luz do luar, apreciando a beleza de suas formas e cores, capazes de enxergar sob a luz da lua coisas que as outras raças ainda não sonham em conhecer. E havia também Ama’ro e Laffis, o Belo Andarilho e Lua Luminosa.

O Andarilho era o melhor batedor que já caminhou nesta terra, enquanto Laffis era tão bela quanto a própria Lua. Juntos, eram o casal mais bonito, tido como exemplo para todos elfos.


Não havia sob a Lua casal mais apaixonado e devotado a seu povo quanto Laffis e Ama’ro. E eles eram amados e amavam os elfos. E eles demonstravam respeito à floresta e amor aos animais. E até mesmo os povos subterrâneos eram respeitados, pois a Era do Caos não havia chegado.

Nessa época também havia Guldur, o criador dos pântanos e de todo o desconhecido, e ele, muito possessivo, disse à Luf, a Lua, que mantivesse seu povo longe de seus domínios.

Mas ninguém podia dizer à Luf o que fazer, pois ela era livre e assim seria seu povo. E então ela, muito orgulhosa, fez com que duas de suas mais belas criações fossem explorar os pântanos e descobrir todos os mistérios que nele habitavam.

Foi assim, meus caros, que Ama’ro rumou para os pântanos do Oeste, pois não havia terreno em que aquele com o título de O Batedor não pudesse pisar.

Mas Guldur sabia que a Lua não iria lhe obedecer e enviou o seu próprio avatar para o pântano. E quando Ama’ro chegou, ele já o esperava.

E assim, ele disse ao Andarilho: “Você e seu povo são livres, mas orgulhosos demais para obedecer a outro Deus. Se você quer entrar em meus pântanos, então daqui não mais sairá. Nem a Lua nem o Sol, nem as estrelas e toda a magia élfica conhecida poderá libertar a sua alma. Este é o castigo do seu povo. E aqui você ficará e perecerá, e aqui seus filhos ficarão e perecerão, e todo aquele que tolo o suficiente para entrar em meus domínios será feito seu igual. E assim será até o fim dos tempos, pois as palavras ditas por Guldur, apenas podem ser retiradas por Guldur.”

E o Andarilho ali ficou. Incapaz de sair dos pântanos, pela primeira vez perdido em um terreno.

Ali, Ama’ro não estava mais vivo como outrora, mas tampouco estaria repousando nos braços da morte. Não havia castigo maior para um elfo da Lua do que a prisão e o exílio, pois um elfo que não pode ser livre perde o brilho de seus olhos.

E assim, com o passar do tempo, Guldur e as águas negras do charco foram envenenando a mente dele com medo e desespero. O Andarilho então foi se transformando em uma entidade sobrenatural, um símbolo de medo e solidão. E o solo e as águas do charco se expandiram com sua força, contaminando as florestas próximas, transformando a região toda em um pântano sem fronteiras.


Após centenas de anos, já não havia mais no Andarilho resquícios de sua antiga forma. Ele havia se transformado em uma criatura do pântano, combinando sua mente distorcida com um corpo coberto de lama e algas do seu novo habitat. Ele agora era não mais que um esqueleto envolto em plantas e lodo, sem resquícios de sua antiga mente, agora dominada por desespero, raiva e ódio contra sua própria raça que o abandonou.

Dominado pelo medo e completamente louco, o Andarilho passou a proteger o pântano como se este fosse sua casa. Não podendo mais se alimentar de frutas e sem o brilho élfico para satisfazer sua alma, ele passou a se alimentar da essência de seres vivos. E assim o fez, atraindo e matando todas as criaturas que se aproximavam do charco, para depois mergulhar seus corpos nas águas lamacentas e fazer deles seus iguais.

Assim nasceram os Andarilhos do Pântano, inimigos de todas as formas de vida. Dominados por desespero e medo, suas mentes distorcidas conservam apenas suas habilidades de combate, tornando-os inimigos perigosos, devendo ser evitados a todo custo por qualquer raça inteligente que cruze seus pântanos.


E enquanto isso, os dias e anos se passaram e nas florestas élficas. E Laffis chorou até não restarem mais lágrimas. E todos os elfos choraram com ela. E alguns viraram as costas para a Lua também, acusando-a de abandonar seu escolhido. E passaram a dividir seu amor por outras divindades, dividindo assim também o povo élfico em si.

E até hoje os Ithilarin, chamados pelas outras raças de Elfos da Lua, são um povo místico e desconhecido. Suas origens e seu destino se tornaram lendas até mesmo dentro da cultura élfica.

Sim, a história é triste. E sim, ela é antiga. Muitos dos mais orgulhosos elfos de hoje a julgam como lenda. Mas nós, assim como Solonor Thelandira, sabemos que os elfos daquela época aprenderam uma dura e valorosa lição.

Amigos, que minhas palavras possam ter sido úteis e que a Lua possa guiar os seus caminhos nas noites escuras. Agora camas e refeições quentes nos aguardam, pois não há nada melhor que uma barriga cheia e uma boa noite para apagar lembranças tristes de nossas memórias. Namárië!

3 comentários em “Bestiário: O andarilho do pântano

  1. Muito triste e envolvente a história. Gostei muito, você (mais uma vez) está de parabéns.
    😀

  2. Devido a problemas não foi possível colocar as regras esta semana, mas no inicio d semana elas estarao ai para download. Desculpem por este imprevisto.

Deixe um comentário