Armas Mágicas

Nos tempos do Caos, muito antes da união dos continentes, muitos dos melhores forjadores anões estavam sendo mantidos em cativeiro por Mat’kil. Por gerações, eles foram forçados a ensinar os segredos do ferro e forja aos filhos dele, os Orcs.

Kazrd Punhosdepedra, um anão defensor, enfrentou diversos perigos para achar o esconderijo onde estavam sendo mantidos sem irmãos. Ele usou seu vasto conhecimento das montanhas para se infiltrar e libertar os prisioneiros, mas, assim que eles chegaram na saída, encontraram as portas de ferro da prisão dos Orcs seladas.

Com todo o exército de Orcs cinzentos de Mat’kil logo atrás, o anão começou a orar por Durin e, no último minuto, ele recebeu uma resposta do céu. O machado de Kazrd foi abençoado por seu deus e, com um único golpe, o herói estraçalhou a porta, permitindo que os prisioneiros fugissem.

Empunhada em muitas batalhas desde então como símbolo da luta contra os Orcs, o machado hoje em dia está perdido. Os anões o chamam de Khundahamar, que significa “libertador”, mas ele é conhecido pelos humanos somente como “O Martelo de Durin”. E até hoje dizem que o machado se encontra escondido, aguardando o verdadeiro guerreiro anão merecedor de, mais uma vez, empunhar o machado abençoado pelo deus dos anões.


O texto acima, adaptado de um famoso jogo online, é um clássico exemplo sobre o que eu vou falar hoje: Itens Mágicos.

A maioria dos mestres prepara o seu próprio mundo, ou passa horas estudando algum sistema, adaptando regras, construindo cenários e histórias, procurando ganchos, enfim, fazendo tudo aquilo que é mais do que essencial para uma boa aventura.

Não há nada de errado com esse planejamento, mas, quando se trata de itens mágicos, normalmente não há muita história envolvida. Por exemplo: aquele Periapto da Sabedoria +4 que o clérigo do seu grupo usa, é apenas isso, um item. E você sabe que, assim que ele encontrar um +6, irá abandonar o antigo em alguma loja em troca de algumas peças de ouro.

Ora, mas qual o problema disso? Nenhum! Mas e se os itens mágicos da sua aventura fossem mais do que itens normais? Que tal se o deus daquele paladino de 18º nível abençoasse a arma dele em alguma situação de combate, ao invés de simplesmente esperar que o jogador compre uma arma com a propriedade sagrada?

O que estou sugerindo aqui não é apenas para personagens de níveis altos. Por exemplo, uma simples arma mágica +1 pode ser dado à alguém do seu grupo como um presente do Rei ou de algum figurão importante em troca de serviços prestados. O próprio Sumo Sacerdote do templo local pode presentear o clérigo do grupo com um símbolo sagrado de ouro, quem sabe. O Lorde local poderia ordenar ao artesão local que fizesse uma arma com o nome gravado do valoroso guerreiro do grupo que o ajudou tanto (o que seria apenas uma arma obra-prima).

A sugestão é que os itens tenham uma história, é claro que os jogadores podem sempre usar o ouro para comprar equipamentos e se tornar mais fortes (se o seu grupo for que nem o meu, acredite, eles SEMPRE vão querer mais e mais itens mágicos..), mas o importante é incluir itens que sejam valorizados pelos jogadores não apenas pelo seu valor em ouro ou em combate, mas que os jogadores possam desenvolver um apego “sentimental” à seus equipamentos, por eles serem lembranças de algo bom, e não somente um item mágico qualquer que pode ser comprado com ouro suficiente.

Quando os itens se tornam mais do que simples itens mágicos, a história ganha outro contexto. Os jogadores deixam de ver itens como “bens materiais” e passam a ter uma ligação, um sentimento único com o item. O que pode até mesmo gerar mais um gancho para histórias.

Isso mesmo! Entre princesas e reinos em perigo, guerras eminentes, o grupo pode acabar embarcando em uma aventura atrás de seus próprios itens. Se o Paladino de Thyr perdesse por algum motivo a sua espada abençoada por seu próprio deus, ele iria pra esquina e compraria outra? Se o mago perdesse seu grimório, ele simplesmente compraria outro e anotaria tudo de novo? O clérigo iria pro templo mais próximo comprar um símbolo sagrado de novo caso ele perdesse o dele? E o guerreiro iria deixar de lado a sua… tá, ok, vocês entenderam. Eles fariam tudo isso? Não! Todos eles acabariam embarcando em uma aventura única, atrás de equipamentos que, para eles, são insubstituíveis.

Aventuras que giram em torno de itens mágicos podem ser muito interessantes e para falar a verdade, nem sempre os itens precisam ser dos próprios jogadores. O Lorde local poderia contratar um grupo de aventureiros para irem buscar sua espada que foi roubada durante a noite por um ladrão desconhecido. Alguém da burguesia poderia contratar os aventureiros para eliminar goblins que roubaram algum item valioso deles (não é a gente, heim! são os goblins de verdade!). Enfim, as possibilidades são infinitas! É claro que você já ouviu falar de O Senhor dos Anéis. Então, a trilogia se baseia na história de um só item mágico: o Um Anel. E olha que os personagens nem mesmo precisam usar ou achar o item, a história é sobre uma jornada épica para destruir o anel! E eles não podem usá-lo pois o item tem vontade própria e corrompe a alma dos usuários. Isso é um clássico e perfeito exemplo de como utilizar itens mágicos em uma história e, de como uma história desse tipo pode ser interessante.

Com alguma criatividade, os mestres podem evitar uma busca tresloucada dos jogadores por itens mágicos, dando mais graça e valor à eles. Sem contar que fica muito mais divertido empunhar um martelo abençoado pelo próprio Durin, do que simplesmente pegar aquele martelo sagrado qualquer, né? Experimentem isso, façam como eu fiz com o meu grupo e vocês verão que a história será muito mais rica, com mais contexto, e o principal: muito mais divertida! Boa sorte!

10 comentários em “Armas Mágicas

  1. Aramil, ótima colocação, já que muitos dos jogadores só vem números em meio a interpretação, mais a historia fica banalizada, e naum importa se seu anel que apenas brilha, eles querem um que lance bolas de fogo, ou que possuam 3 gemas azuis que concedam desejos!!!

    Tentei uma vez colocar importância para Armas mágicas pela potência de seus efeitos, eles tomaram ciência da coisa, porem a curiosidade de veem os efeitos de uma Arma Magica +5 eram maiores, mais ninguém tira o gosto de uma arma dada pelo próprio deus, por uma caótica arma de destruição em Massa: Silith, Assassino de Guildas, trocou um martelo forjado pelas forças essenciais divinas destruidora de leviatãns por uma adaga de efeitos aleatórios mínimos.

    Então como sempre, viva a Interpretação da Ficha + como sempre com aquela Historia fundamentada.

    vlW Thay.narrador q=D

  2. Cara você tocou em um ponto importantissimo, a desvalorização e banalização de itens mágicos.

    Em meus personagens e campanhas, eu sempre tento dar mais valor à habilidade natural, interpretação, que a posse de itens mágicos. Eu sou um grande fã do cenário de conan, e lá os itens mágicos são escassos, em geral, qdo aparecem, fazem parte da história que está sendo contada.

    Conan era um guerreiro foda, e nunca precisou de itens mágicos para matar criaturas mágicas (se sangra, então pode ser morto!).

    Uma vez em uma sessão que participei de jogador, um dos jogadores comprou riqueza, clericato, e antecedentes incomuns para poder começar com vários itens mágicos. Se eu fossee o mestre da sessão, camarada que sou, faria ele perder uma luta para um cara desarmado, que tomaria a arma dele e usaria contra ele! :c)

    eu também tive a idéia de inserir itens mágicos na minha sessão como background. alguma coisa que faça o personagem ter orgulho de empunhar. Não necessariamente um item dado por um deus, mas algo que possa fazer parte da herança do personagem. algo que ele fosse descobrindo aos poucos, e fizesse parte de uma mini-campanha.

    Por exemplo, se tivesse um mago no grupo, eu faria ele descobri que ele teve teve um ancestral (talvez um bizavô) que também foi mago, e um grande aventureiro, mas que perdeu a vida quando lutava com nativos em selvas tropicais. Sua cabeça foi mumificada e faz parte de um talismã do xamã local.

    Se o jogador conseguir recuperar a cabeça do antepassado, ele pode ter acesso a magias aleatórias conhecidas pelo bisavô.

    algo assim!
    .-= Marcus VBP´s last blog ..Eu queria receber um modelo =-.

    1. Opa, Conan é o cara, eheh.
      O que mais importa na vida, Conan? eheh.
      Itens mágicos na Era Hiboriana são tão raros quanto mosntros sobreviventes pós um encontro como Conan, eheh, e quando existem, geralmente estão na mão de um mago super-foda!
      : )

    2. Opa, Conan é o cara, eheh.
      O que mais importa na vida, Conan? eheh.
      Itens mágicos na Era Hiboriana são tão raros quanto mosntros sobreviventes pós um encontro como Conan, eheh, e quando existem, geralmente estão na mão de um mago super-foda!
      : )

      Agora é aquela estória, essa questão de valorização de itens mágicos depende muito do nível de magia do cenário: Abeir-toril, por exemplo, é cenário de alta magia, item mágico vende na feira de qualquer cidade; na era hiboriana já é bem diferente, e por aí vai.

      Num jogo típico de D&D, espera-se que os personagens possuam diversos itens mágicos, isso faz parte do “equilíbrio” do sistema, mas nada impede o mestre ou o jogador de colocar em evidência um ou outro item interessante.

      Um gancho para início de campanhas descompromissadas que costumo usar é a torre do mago que contrata aventureiros para resgatar itens mágicos desparecidos/escondidos/roubados: entreguem o que eu especificar e fiquem com o resto!

      Post bem legal! Blog favoritado aqui!
      : )
      .-= Daniel Coimbra´s last blog ..1 =-.

  3. Numa antiga campanha minha um de meus jogadores personalizou as armas de seu personagem, a espada dele ainda era uma espada longa mas tinha o formato que ele escolheu, ele amava a arma, e nunca a quis trocar por uma arma mágica, minha solução foi simples depois de passar 5 níveis usando a mesma arma eu disse que ela simplesmente havia se tornado mágica pelo personagem tê-la banhado no sangue de tantas criaturas místicas.
    Foi uma solução interessante e ele ficou bem contente por ter uma arma mágica e por manter a velha companheira (Pq ele não mandou encantar a espada? Pq basicamente teria de forjar uma nova pra isso). Aliás, muitas armas mágicas na história recebem sua “magia” dos feitos que seus donos realizam, a espada matadora de orcs tornou-se uma arma contra orcs depois de chacinar uma centena deles (por exemplo).

  4. Exato! Todos vocês pegaram o espírito da coisa!

    É claro que sempre vai ter aqueles jogadores que vão querer se entupir de itens mágicos e ponto. Cada caso é um caso. Mas a simples idéia de dar mais ênfase à história do item, de dar um importancia diferenciada á eles, já é um começo!

    A idéia de uma arma que cresce em poder junto do personagem, é execelente também. A própria WotC lançou um livro nesse estilo, mas não me recordo o nome em portugues. É só “armas lendárias” que, graças à história de quem a empunha, ela adquire poderes mágicos! Isso também é uma boa maneira de “controlar” a caça absurda por itens e itens (é claro que ser um pouco menos generoso com o outro que os jogadores acham sempre funciona também, hehe).

    São ínúmeras as idéias que vão funcionar ou não em cada mesa de jogo, mas tenho certeza que, com um pouco de tentativa e erro, cada mestre descobre o que é melhor na sua mesa!

    Ah, e fico feliz que tenham gostado da matéria! =)

  5. seu post toca realmente em um ponto muito importante de todos os rpgs, itens poderosos. Que são desejos de todos os jogadores em qualquer tipo de narração. trata-los como simples objetos é simplório de mais. com certeza eles devem ter mais vida na sua mesa de jogo. Muitas narrações bacanas podem rolar em cima de um poderoso item mágico.

    Outra cuidado a se ter é não banalizar os itens, fazendo com que os jogfadores encontrem um item mais poderoso em toda a narração.

    Parabéns aramil e bem vindo a taverna

  6. Rapaz eu pretendia falar muita coisa, mas vocês ja falaram tudo que vou me silenciar. Os comentarios foram tao bons que poderiamos só copiar e colar e fazer um outro post.

    Rasgando a seda aqui, dá o maior orgulho ver o povo comentando assim… Valeu pessoal que nos prestigia.

Deixe um comentário