Raio-X: Magneto

O que nos define enquanto heróis ou vilões? Pode mos ir mais longe. O que nos define enquanto humanos? Existe uma definição fechada, ou será apenas uma questão de ponto de vista? São perguntas como esta que fazem de Magneto um dos personagens mais complexos e poderosos do Universo Marvel, e o nosso primeiro analisado na coluna Raios-X.

Comecemos com uma afirmação polêmica: Em D&D, Magneto é Lawfull/Good. Sim, não existe muita diferença entre um Paladino clássico e Erick Lehnsherr (ou qualquer um de seus inúmeros nomes). A maioria dos que lutam por algo fanaticamente, que estão dispostos a entregar sua vida por uma causa, possuem um vazio interno que é preenchido por um ideal nobre, seja o serviço de uma divindade, seja a libertação dos oprimidos Mutantes. Um personagem que não considera isso na hora de montar seu background poderia soar falso.

Magneto realmente acredita que o caminho que escolheu é o melhor para os mutantes. Mas mesmo oscilando entre terrorismo e política (Magneto já chegou a ser presidente da ilha de mutante de Genosha), ele não se mostra mesquinho ou traiçoeiro. A maior prova disso é sua relação com o amigo Charles Xavier. Charles é provavelmente a única pessoa em quem Erick confia e de quem respeita a opinião, mesmo que suas decisões quase sempre sejam contrárias e conflitantes. É uma amizade que transcende a mesquinhez, ou as divergências de dois homens que, no fim, lutam pelo mesmo ideal com a mesma força de vontade e lealdade.

Mas qual seria o vazio que ele tenta preencher? O que torna Erick tão diferente de Charles? A vida pessoal do Mestre do Magnetismo, desde sua infância na Polônia, é lotada de desventuras. Judeu, viu sua família ser capturada e executada nos campos de concentração Nazistas. Tendo sobrevivido a tal, tentou reconstruir sua vida ao lado de seu primeiro amor, Anya. A falta de experiência com seus poderes acabaram por ocasionar um acidente que matou a filha do casal, metade da cidade onde moravam, e fez Anya fugir em desespero, dando a luz aos gêmeos Wanda e Pietro, que Magneto só conheceria depois de adultos. Quando em Israel, trabalhando para ajudar as vítimas da guerra, conhece Charles Xavier, que o ajuda aos poucos a curar suas feridas na alma, um igual num mundo onde os mutantes ainda eram raros. Porém, quando surge a oportunidade durante a batalha dos dois contra a Hydra, ele rouba o ouro dos nazistas e decide lutar ao seu modo pela causa mutante. Magneto escolhe seu fanal, uma nova vida, onde pode se dedicar a algo mais nobre, e evitar que sua raça sofra aquilo que ele sofreu.

Se analisarmos bem, há muito da ideologia judaica radical em Magneto. O “Homo Sapiens Superior” é o Povo Escolhido, que deve guiar o futuro das nações, e Magneto é seu Moisés, seu libertador, os guiando para a Terra Prometida, que oscila entre o Asteróide M, Genosha ou mesmo um mundo só feito de Mutantes. Os “Homo Sapiens Sapiens”, os “goiym”, seriam inferiores e deveriam se submeter à Nova Era. Mas nenhum homem é só ideologia. Magneto é capaz de moldar o aço a seu bel prazer, mas não é feito dele. Os nuances, as contradições e às vezes recuos do personagem, que hora se abre para uma nova visão, hora retoma sua ideologia radical frente a um grande perigo ou decepção, é o que faz de Magneto o maior vilão e um dos maiores heróis do Universo Marvel ao mesmo tempo. E pode fazer de sua campanha um grande épico.

11 comentários em “Raio-X: Magneto

  1. Cara, muito bom… muito bom mesmo…
    Trazer essa ideologia dos personagens de quadrinhos e comparar com outros tipos de personagens foi sensacional. Acho até que poderiam fazer com personagens de outras midias (filmes, talvez livros).

  2. Interessante… Gostei.

    A ideologia judaica de Magneto é realmente um dos pontos mais gritantes do personagem para quem tenta ver elementos “além dos quadrinhos”. Mas uma coisa que sempre me incomodou, prinicpalmente quando falamos de tendências de personagens, é como encarar os fanáticos de plantão.

    MAgneto tentando à todo custo chegar ao seu ideal de mundo não se preocupa com quanto de efetio colaterla isso provoque. Só nisso já acho que classificá-lo como LG seria uma temeridade (embora as regras existentes no Básico do D&D aprovem).

    Acho que faltou, e deculpe a sinceridade, tocar no ponto principal ao qual tu havia se proposto na postagem de apresentação da seção Raio X – como interpretar tal personagem. O histórico está perfeito (e posso aprovar pois coleciono quadrinhos desde 1982).

    No mais está muito bem escrito e enxuto… Parabéns…

    P.S.: desculpe pela crítica!
    .-= João Brasil´s last blog ..Cinema =-.

    1. Pode ficar tranquilo cara. Criticas são sempre bem vindas, ainda mais as que vem sem “salto-alto”.

      Pra falar a verdade, eu semppre achei o sistema de D&D meio incompleto nesse quesito, muito “en passant”. Mas considero Magneto LG e não LN porque, apesar de tomar muitoas vezes métodos extremos, o bjetivo dele é semrpe autruísta. Ele quer um bem maior, e não seu próprio engrandecimento, mesmo que possa parecer uma ideologia distorcida para o resto.

      Já falar COMO alguém deve interpretar um personagem, é meio complicado, sem o conhecer. No Teatro, uma das técnicas de interpretação usada pelos atores é a de acessar emoções pessoais que se assemelhem as do personagem que se vai interpretar, tornando-as mais verídicas. Eu pessoalmente sempre me vali dessa técnica dirigindo/atuando, e é por aí que pretendo guiar a coluna Raio-X. Um backkground que lhe faça pensar em situações conflitantes, que lhe dê um gancho pra se reconhecer,e alí injetar sua interpretação, baseada no conhecimento que você tem do grupo com quem joga, das siuas experiências pessoais, medos, habilidades, assuntos de interesse, etc.

      1. Desculpe se não fui claro… Eu realmente entendi a tua intenção ao criar aquele ‘histórico’ detalhado do mestre do magnetismo… Mas é que a impressão que tive, no post de apresentação desta nova seção, é que seriam dadas dicas para interpretação de tais arquétipos.

        Concordo também que é uma questão meio delicada direcionar a interpretação usando como base esses personagens, mas não considero que seja algo tão difícil assim. Poderia ser de uma forma “um personagem como este reagiria de uma forma Y nessa e nessa situação, se você desejasse algo do gênero, deveria agir assim em situações como X, W e Z”… Mais ou menos assim!
        .-= João Brasil´s last blog ..Cinema =-.

  3. Que isso, que ótimo post, um verdadeiro Raio-X neste vilão (que seria mesmo um vilão?). Parabéns, esse material dá muito bem para ser aproveitado na hora de criar um vilão NPC… muito bom mesmo.

  4. Excelente proposta de coluna!
    Ainda por cima, começou com um dos meus personagens preferidos, um verdadeiro ícone da Marvel.
    É uma pena que boa parte dos roteiristas não explore o tamanho potencial deste personagem nos quadrinhos, e principalmente no filme, este último sendo uma completa piada.

    Abrçs e Bons Jogos!

  5. A melhor descrição das motivações de magneto que já lí/ouvi…
    E olha que meu grupo de RPG é afcionado por debates éticos…

    Adorei a coluna e já sou fã de carteirinha(vou ler agora a do “Espirito que anda”), parabéns.

    Mas ainda fica a pergunta: HEROI ou VILÃO? Na minha sempre opnião é heroi, ao menos dos mutantes e quem sabe, as veses vilão dos humanos.

    /abraço

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